quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Tautologia




Hoje eu cresci, acordei de um sonho de criança onde tudo me levava a um mundo fantasioso e de angustia alucinógena.

A frase a cima poderia ser o resumo perfeito das ultimas semanas que tenho vivido neste ano. Tenho ciência da minha existência mediócre nesse mundo que pede mais do que posso contribuir, tenho ciência do todo que deixei para traz para entrar em uma caminhada do qual não era minha.

Desde dezembro tenho lido um livro que estou fazendo questão de lê-lo vagarosamente a fim de degustar cada palavra, pois nunca encontrei algo que poderia retratar tanto minha vida no ultimo ano. Cucco transmite a historia de uma mulher que coloca a outra em sua casa como forma de acalento e ajuda, porém como na vida real só conhecemos as pessoas quando convivemos com ela dia e noite, quando ela dorme em sua cama durante noite em fio e seu suor e odor impregna de tal maneira em tua pele, corpo e alma que mesmo com o melhor do alvejantes você não consegue tirar aquele sebo do qual te impregnou.

Dois mil e doze foi um ano de zero conquistas, de retrocesso mental, de vida cultural abstrata, me gerou uma enxaqueca constante, mas não em minha cabeça e sim na minha alma. "Em que esquina minha alma se perdeu ou em que rumo se desviou?". Essa foi a frase que mais me perguntei nos primeiros dias deste ano.
Até onde podemos abrir mão de nossas vidas para doa-lá de forma pueril para alguém? Bem, foi outra pergunta que me fiz e sinceramente ainda pego meu chicote mental e faço minha sazonal auto-punição de forma a acordar de um pesadelo que durou meses a fio.

Kafka em seu mais celebre livro, A Metamorfose, nos prestigia com a historia de um homem comum e de meia idade que um belo dia acorda feito uma barata, a reclusão é sua única saída, uma vez que seus amigos e familiares não o reconhece mais como parte daquele mundo, ele passa dias e noite olhando as luzes da cidade sobre a janela, observando o mundo de sua pequena e mediócre cela. A comida o é servida fria e já sem muita vida, o calor humano que o confortava já não é oferecido e ele permanece ali até o desfexo do livro que Kafka faz questão de não demonstrar um destino ao certo a sua criação.

Como em A Metamorfose, minha vida se tornou uma clausura, amigos e família se afastaram afim de eu não ser mais inserido na sociedade como eles assim conheciam, eu mudei, criei minha própria metamorfose e me distanciei para não causar asco de minhas novas "antenas". O conforto de um abraço se tornou cada vez mais escaço dentro de minha cela de 3 comôdos, onde a comida já era me servida fria, como o coração que acompanhava a mão que me jogava o prato.


Me olho no espelho hoje, olho meu reflexo na janela durante a noite, olho meus olhos caídos e minha pela maltratada pelo tempo deste um quarto de século e enxergo uma pessoa que eu mesmo não consegui entender o processo de criação dela. Me vejo em um momento do qual cheguei sem ter ciência disso, um momento do qual uma mente mórfica me levou.
Ao contrário do que se pensa não sou Tautologista. Esta frase é outra que eu poderia colocar em meu epitáfio. Mas não será necessário de momento uma vez que ainda viverei durante muitos anos só para ter o gosto de amargar mais um pouco esse mundo com minha doçura infantil e meu féu adolescente.

Precisei de mais um mês para realmente acordar este ano e estraçalhar o ano anterior afim de apaga-lo de minhas paginas amareladas e corroídas pelas traças. Mas agora que acordei estou mais vivo do que nunca, meu coração pulsa jorrando um sangue tão vermelho quanto antes por entre minhas veas e vasos.
Estou pronto para andar e para trazer ao meu lado pessoas que possam me transformar em uma pessoa melhor pelo que sou e não pelo que elas desejaria que eu fosse.

Tudo é mutável neste mundo, mas é sempre bom aprender que nunca a nossa alma poderá passar por mutação. Somos essência e o perfume de uma essência é imutável.

Enfim considerem este texto como o rodapé "Fail" de 2012. E acreditem tive um sangue mais do que frio para escrever.

Sangue frio esse que absorvi do lado gelado da minha cama do qual era ocupado.


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Silêncio



As luzes do banheiro estavam apagadas e o que iluminava seu corpo era a luz da lua que entrava pelas frestas distantes e arredondadas da janela, a água do chuveiro caia de forma límpida e rebatia sobre teu corpo como agulhas afiadas adentrando por dentro de sua pele, carne, alma.

O calor era insuportável e aquela água quente deixava seu corpo flamejante e latejante o deixando nauseante. Sentado a baixo daquela cachoeira de poeiras e lagrimas da terra estava ele, despido de seus pudores, prazeres e os mais celebres desejos, nu de todas as suas faculdades, de todas as iras do qual sempre o provocará a fazer coisas do qual ele pouco entendia.

O choro era compulsório não tinha mais como posterga as lagrimas contida a tanto invernos e a tantos desprazeres que o desferia de forma abrupta.

Levanta a mão, puxa um pequeno e surrado espelho e se olha de forma empírica, superficial, suas curvas volumosas e seu corpo surrado e sujo... Sujo dos crimes e sofrimentos que ele causou a si. Seu rosto já não era mais o mesmo, a barba semi-serrada e os olhos caídos era a clara e mais humilhante forma de cansaço, não físico mas seu espírito já velho e abatido refletia sobre seus olhos já sem brilho, vida.

Tudo se silenciava em sua volta e aquele barulho infernal da água batendo sobre suas costas não o deixava atordoado.

As lagrimas escorriam sobre seu rosto, peito e coxas enquanto acuado dentro de si e de forma fetal ele tentava entender o que tinha havido, como chegou ali? Porque dessa forma? Será que aqueles monstros que tanto o atormentava haviam ressuscitado a ponto de ele não ser mais o dono de seus movimentos, o ventríloquo fazendo o papel do mais barato brinquedo?

As perguntas vinham de forma categórica em uma epifania onírica, as visões eram turvas e aquela luz maldita de se refletia sobre a água que escorria pelo pequeno e enferrujado ralo suas expectativas de uma vida mais pura, refletia seus sonhos e desejos mais infames, e tudo escorria, tudo acabava indo para o esgoto de fezes e dejetos putrificados.

As lagrimas se tornaram mais vorazes, e sua imagem refletida naquele velho espelho se tornava turva e com pouca vida.

Silêncio, atenção, Silêncio...

Tudo se silenciou, seu coração por um momento parou, e toda aquela metamorfose, toda aquela sofreguidão por um momento parou.

Ele levanta ainda estonteante, escorrega e cai desferindo sua cabeça, o sangue escorre e mancha de vermelho aquela água pura que a pouco lavava tua alma. Apressado ele encontra na primeira gaveta de madeira ruim e farelenta os comprimidos que iria por um fim naquele sofrimento...

Um mais um, Silêncio, dor, angustia, repudio de um dia ter feito... Torpor, sua alma se entorpece e seu corpo cai sobre sangue, fezes e água.

Silêncio!


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Lucros X Perdas (Balanço anual de minha vida).


Mais uma vez eu digo, poderia chegar aqui com discursos de miss universo, porém infelizmente ou até mesmo felizmente esse tipo de conduta chula não me combina.

Este ano nem mesmo a contabilidade cheia de regras e truques fajutos conseguiria decifrar o quão ultrajante este ano para minha pessoa foi.

Tantos lucros e quantas perdas significativas para a formação de um caráter mais limpo. Porém vindo de mim o que vem a ser um caráter limpo? Sinto-me as vezes como uma esponja que se apertada só consegue despejar sobre o chão a espuma que limpa o corpo, porém as impurezas continua em seu centro para passar a frente. Sujeira essa que não é física, mas sim a sujeira que a sociedade as vezes nos causas por escolhas corruptas e desorientadas.

Mas vamos entender como esse ano decorreu para que assim possamos entender realmente o que são desorientações e corrupções.

Lucros X Perdas.

Se houve um ano do qual eu não consegui me entender e principalmente me ouvir foi esse. Talvez por me calar por tantas vezes que poderia ter falado, ou as tantas vezes que era para eu ter me calado e falei. Não sei bem. Mas era tantas vozes, uma sinfonia de conselhos que nem os conselheiros saberiam muito bem explicar. Às vezes sinto falta do silencio, silencio esse que tanto afugentei de minha vida, (momento clichê) “às vezes precisamos perder para entender o que é viver sem”. O silencio me fazia pensar, me deixava ouvir o monstro, deixava o monstro rugir e dizer às blasfêmias que me acordava e me jogava ao chão, vez em quando. Este ano até isso perdi, esse monstro adormeceu de uma forma que não sei mais como despertar.

Perdi amigos que estimava, perdi pessoas do qual me amava. Perdi, perdi e perdi. Mas não sinto tanta falta do amor por mais que ele me complete, por mais que ele me faça acalmar.

Perdi a tristeza que me era companheira, perdi a solidão que me era calmante. Perdi a mim e não me reencontrei. E nesta perda encontrei outros Cleiton, outros desses que começaram a me empurrar por um barranco de lama, do qual hoje ainda sofro para subir, enlameado e já com pouca vontade de voltar.

Perdi o pudor, perdi a capacidade religiosa, perdi a mim e encontrei os outros. Nunca fui tão influenciado, nunca fui tão blasfemado, nunca fui tão ignorado. Perdi os olhares e ganhei repudia.

Perdi os afagos e ganhei arranhões.

Perdi o carinho e ganhei prazer. Alias esses é o que mais ganhei. Prazer ó o prazer, esse foi o que me confortou em tantas vezes que eu fugia de mim. Foi ele o culpado por tantas coisas culpado por tantos problemas. Cheguei ao submundo da sociedade mas ainda tinha ele para me agarrar e seguir a diante.

Perdi o meu espírito, e não sei em que lugar do caminho o deixei, já não sei se ele ficou para traz ou se eu que não consegui acompanhar sua evolução. Perdi a calma e ganhei a lucidez em tempos tão difíceis.

Perdi a dignidade muitas vezes e ganhei prestígios e condutas. Hoje sou o que almejei, mas não sou feliz por ter conseguido e não me acho digno perante aos meus ancestrais pelo que eles me ofereceram e me presentearam.

A vida me tirou a pele, a roupa, a tristeza e a felicidade, me tirou a vergonha e o pudor, me tirou metros e metros de lençóis, me tirou litros e litros de lagrimas contidas, me tirou o sossego e a turbulência, me tirou de mim, me tirou a essência. Ou será que a vida não tem nada haver com isso? Será que sou o único e exclusivo culpado por ter sido roubado a nem perceber. Fui o responsável pela conspiração que me houve, fui o próprio traidor de mim.

Quantos sonhos conquistados, quantas coisas arrumadas, quanta paz. Mas será que eu estava preparado para a paz? Esqueceram-me de falar dos compromissos com a paz, esqueceram-me de falar dos efeitos colaterais que esse remédio causa poxa! Acho que eu não estava preparado para a paz, acredito que a paz juntamente comigo foi a responsável por tantas perdas, por tantos indícios de loucuras previamente ditas.

Hoje vejo lá atrás eu, vejo o quanto eu progredi. Tenho dinheiro no bolso, não ganhei muito mas soube administrar. Não fui tão burro quanto antes, mas acometi e cometi as mesmas ou tantas outras loucuras quanto no ano que se passou anterior a este.

A vida me tirou a musica, a palavra o paladar. E me esqueci do sorriso da criança, me esqueci da transmutação, me tirou paginas e paginas de vocabulários e me sinto tão burro quanto a um ano atrás, ela me tirou horas e horas de boas melodias, me tirou do ritmo que era meu. E eu assisti a tudo isso como um mero espectador preso a um cinto idiossincrático.

Mas ganhei tantas coisas. Ganhei novas amizades que foram talvez os grandes responsáveis por eu não ter afundado mais neste barranco de lama densa.

Ganhei novamente uma família. Coisa que tanto cobrei. Mas me perdi. Será que sou dado a ambientes familiares? Será que estou pronto para enfrentar novamente uma família que a tanto sinto e vejo a falência por tantas perdas?

Ou será que a sociedade familiar ainda é um contrato social do qual não estou pronto para assinar?

No ano anterior, relacionamentos escaparam de minha mão por coisas sem sentidos. Este ano grandes relacionamentos escaparam de minha mão por uma só coisa. Percebi que não sou dado a grandes relacionamentos.

Ou talvez ao contrario, a pergunta afinal é? Será que estou pronto para receber carinho? Afeto? Será que estou preparado para um abraço?

Muitas vezes este ano fui indagado quanto a isso. O porquê me esquivo tanto dos sentimentos? O porquê me esquivo tanto da sobriedade de um abraço ou da benevolência de um carinho?

Passaram-se meses e não soube responder, talvez só quando eu reencontrar minha alma por esse “peabiru” é que ela me responda.

E aqui estou eu, sentado sobre o mesmo colchão, sob o mesmo teto, a única diferença do ano passado é que não estou escrevendo uma coisa póstuma, este ano assim não me permitiu. A diferença é a quantidade de dinheiro que aumentou no meu bolso esquerdo. Só os quilos que não são os mesmos. A vida me tirou a compreensão de fatos e em troca me deu alguns quilos a mais.

Já dizia um filosofo amigo, “Nuvens Brancas passam por Brancas Nuvens”. A dificuldade, no entanto são identificar quais são elas e como eles transgridem rumo a um infinito redundante e translucido do meu e de todos os outros seres. Há anos tentando entender o significado dessas nuvens densas e mansas, e este ano percebi que não há uma regra e sim uma superexposição de fatos. Que elas nada mais é que nosso ser sobre nós, que ela é o que somos pelo que realmente acreditamos ser.

Mas diga-se de fato que de filosofia para filosofia se fosse pensar nelas, eu não estaria aqui já nesta terceira lauda sem ao menos entender aonde eu realmente quero chegar.

Talvez o próximo ano possa me mostrar, possa me clarear.

Uma vez escutei uma musica do qual acredito que é a mais profunda e ao mesmo tempo superficial realidade.

Pedrinha, tão linda, pedrinha de aruanda aê,
Lajedo, tão grande, tão grande de aruanda aê.
Uma é maior outra é maior, “a mais pequena é que nos alumeia”.

Vou esperar essa pequena pedra me iluminar e mostrar por onde eu deva seguir. Talvez eu já até saiba, é que é cedo ou tarde de mais para dizer. Prefiro me conter nesses pensamentos tão insólitos e inoculo e deixar o ano chegar e me apoderar.

Sou tão pequeno e tão grande, tão sábio e aprendiz. Sim aprendiz de mim.

Posso ter perdido tanta coisa. Posso ter perdido a coragem e a arte.

Porém ganhei a mim mesmo, ganhei a consciência de saber em que passo eu errei.
Continuar errando? Perdendo? Isso se faz necessário para ganhar. Ganhei tantas coisas. Mas às
vezes superestimamos e Sobexpomos nossas próprias qualidades. Elas são tantas, mas para que falar delas se elas são as únicas coisas que não precisamos esconder. Nossa insensatez e a sujeira por entre as camadas da esponja essas sim é que escondemos da sociedade como um todo. No submundo só encontramos cheiros e procura por prazer. Na sociedade como um todo encontramos pessoas como todas as outras a fim de esconder sua podridão seu desejo sedento por sexo, fluidos e cheiros.

Pessoas podres como nós, que deixam suas espumas escorrerem entre os dedos da esponja e escondem sua podridão como nós, dentre nossos quartos e banheiros.

Assim findo. Como um ser em busca de algo ainda inacabado. Por um mundo que ainda não foi completamente construído para si.

Ainda falta. Tem muito às vezes.

E Assim termino superexpondo minhas inescrupulosas qualidades e deixando minhas reais intenções a quem realmente interessa.

A mim mesmo!

sábado, 24 de abril de 2010

Sem Nome, Sem Teto e Sem Alma


As luzes tremulavam enquanto as cortinas dançavam sinuosamente motivadas pelas finas camadas de vento que circundavam as frestas daquela velha janela, e ele estava ali sentado, mórbido e atônito respirando aquela espessa fumaça formada pelos cigarros que o deixava mórfico e sem vida.


A maquina de escrever estava encima daquela mesa gélida de madeira escura dividindo espaço com papeis amarelados e objetos empoeirados.


As frases daquelas folhas amareladas, pareciam flutuar em meio aquele turbilhão de ar potrificado que circulavam por aquele quarto, eram frases, pensamentos e injurias do qual escapara de sua mente, seus últimos suspiros, seus resquícios de vida cuspidos naqueles papeis sem vida.


O vento continuava a assombrar assentando e balançando vez enquanto aquelas cortinas de um vermelho sangue envelhecido. As paredes pareciam chorar e gritar a cada piscada que aquele ser agonizante dava.


Ele estava jogado naquele canto mais escuro e úmido do quarto, suas roupas eram nobres, calças cinzas e camisa da melhor ceda que o mercado poderia vender, mas seus corpo surrado e de um pálido mortal repousava de forma fetal enquanto pequenos filetes de saliva escorria pelo canto ressecado de seus lábios.


Enquanto as luzes daquele quarto bruxelavam sinuosamente velando aquele corpo recaído de olhos azuis orbitados, lá fora o céu desbotado de um inverno visceral despejava sobre os telhados os primeiros pingos de uma chuva fina, fazendo gelar aos poucos o ventos que adentrava no quarto.


A fumaça do cigarro que subia daquele cinzeiro de ferro batido abarrotado de cinzas e pequenas bitucas, dissipava-se pelo quarto vazando aos poucos pelos ranhos da porta que levava diretamente as escadas da frente do prédio.


A chuva continuava a cair calmamente e da palidez do céu da cidade brotava os primeiros pontos luminosos através das densas nuvens preludiando as horas daquele dia.


Ele tenta se levantar estica a mão em direção daquele ultimo cigarro que ainda queimava, seus ossos rangem, sua pele pálida se torna morna e escamosa e um pequeno gemido se ouve enquanto seus olhos viram sobre as orbitas. Uma pequena camada de poeira e cheiros dança quando novamente seu corpo cai tocando aquele surrado colchão.


Lá fora pela rua estreita pedregulhada, um pequeno carro preto corta a chuva com velocidade, parando em frente aquele quarto de forma visceral. Lanternas quentes, motor efervescente, mas olhos neutros, corações frios. Dois ternos de um azul noturno despontam de dentro do carro, um menor e outro um pouco mais robusto, gravatas apertadas, colarinhos altos e mãos empunhadas com pólvora e aço.


A chuva os deferia imperceptivelmente a cada passo que eles desbravavam rumando para as luzes bruxelantes e o quarto quase sem vida.


As botas de um couro brilhoso e de solado de uma borracha espessa e fibrosa rangiam enquanto eles adentravam por aquele corredor curto de paredes de um bege pálido com rachaduras do qual deslizavam um muco gelatinoso deixando a mostra à velhice daquele lugar.


A sensação era de um sufocante infernal para aqueles dois seres que adentravam com destreza através daquele corredor escuro, a escada com degraus íngremes e dislexos que os levavam diretamente aquela porta fria de um mogno desalinhado com desenhos naturais que pareciam pequenas estradas para formigas e cupins.


Eles se entreolharam e forçaram veemente a porta, até que as trancas de um ferro alaranjado devido aos anos de uso e entregue à ferrugem, dissiparam-se e cairão ao chão como um papel descartado.


Aquele corpo de respiração forte que jazia ainda caído naquele canto do quarto se encolheu ainda mais, não se ouviu uma só palavra, somente um murmúrio esquisito entre os dois seres, enquanto aqueles olhos esverdeados fitavam aqueles dois pares de olhos de uma cor perolada.


Aquele ser caído tentava falar mais sua voz faltava, lagrimas brotaram nos seus olhos secos e ele se calou. As duas figuras rondaram o quarto procurando algo, papeis foram remexidos, e mais murmúrios pode ser percebido, os olhos que por momentos transmitiam neutralidade agora trazia em sua essência uma fugaz fúria.


Foram em direção aquele ser enquanto ele soltava pequenos gemidos e se comprimia quase se fundindo ao muco que escorria da parede.


Por um momento as luzes bruxelantes se apagaram, gritos, rasgos, cuspidas, murmúrios e vozes salientes foram ouvidos. Cheiro de pólvora, um barulho ensurdecedor e o cheiro de sangue tomou o lugar deixando um rastro entre as ranhuras do piso de madeira.


Portas se fecharam, passos, roncos de motor, chuva e fumaça transbordou toda a cena enquanto a cidadela era encoberta pela manta de um azul negro bordado por estrelas.


sábado, 2 de janeiro de 2010

Balanço Patrimonial da minha vida.

Eu poderia fazer um discurso de mis universo ou falar sobre desentendimentos retrógados, mas prefiro ser um poeta avesso e desestimulado, olhar para a minha vida como uma grande conta contábil, pois é foi sentado em um quiosque de frente com o mar, sentindo a brisa do mar em meu rosto e doce frio de uma garoa calada, na companhia da dama de cabelos negros que somente eu posso sentir e do lado de duas figuras maravilhosas que apareceram em minha vida. Ali estava eu sendo aparado por uma coca quente e por o gosto já amargo dos meus cigarros, percebi isso, que a vida é uma grande organização contábil cheias de ativos, passivos , patrimônio líquido e sinistros.

Em poucas horas inusitadas e decisivas percebi coisas em minha vida que juro, demorei anos para entender.

Sentado em frente à fatídica vida transtornada, pude perceber que sim, sou um homem de muitos amores, mas estou em debito com os que a mim passam. Sobe crédito para passivo, por favor, e debita em ativos (sem ser pejorativo), mas todos passam por mim me deixam marcas, mas também levam um pouco de mim, por favor, adicione estas partes de mim em sinistro.

Passei um ano, sim mais um ano procurando a perfeição não em mim, mas sim em outras pessoas e em outras coisas. Talvez a falta desta dita irresistível perfeição seja irreal, não exista de verdade. Já dizia o velho sábio não é “olhando de perto ninguém é normal”. Mas irresistivelmente tive de provar para mim mesmo isso três vezes, e graças há um pouco mais de pinga e uma noite suada e dançante em uma boate qualquer consegui perceber nesta terceira vez esta teoria filosófica de que ninguém é perfeito, adicionem então este conhecimento primordial em meu patrimônio liquido.

O ano passou e com ele empregos bons, muito dinheiro e adivinhe o quanto eu guardei? Some dois mais três multiplique por dois e divida pelo mesmo resultado, isso mesmo, hoje é dia dois de janeiro de dois mil e dez e tenho somente um real no bolso, adicione em sinistro muito dinheiro que foi gasto em bebidas, sexo (não paguei o sexo em si, mas para uma noite de sexo você gasta com preparativos, preservativos, e é claro um agrado para a pessoa que lhe proporcionou isso, pode ser uma pizza ou refrigerante ou até uma cerveja não é?), além das já ditas à cima, coloque também em sinistro dinheiro que gastei com nada, isso mesmo com nada. Pois nada comprei e nada adquiri e lá se foi todas as cédulas que ganhei.

Mas não me sinto pobre por não ter dinheiro hoje. Pois sei que tenho coragem de ganhar muito mais. Então por favor, acrescente isso em patrimônio liquido, debite dois em ativos e credite isso em passivos. Além do mais que se gastei muito é porque a tendência básica é que ganhei bastante também.

E quantas noites de sexo! Quer melhor coisa que gastar dinheiro com a coisa que você mais gosta de fazer? Some Isso tudo em algo não contábil, por favor, e sim em experiência de vida.
Tive experiências únicas em todas as áreas de minha vida. Vivi Intensamente a cada momento respirei ofegante durante um ano corrido e sim admito um pouco sofrido, mas como nosso amado Cazuza já dizia “Vida louca vida”. Foi bem assim que eu me senti. Perdi as contas dos puxões de orelhas, dos conselhos e claro dos aplausos.

Mas o que eu posso fazer se sempre digo que sou aquela mosca que pousa na sopa, aquela mosca em metamorfose ambulante, então vamos acrescentar a mosca e todo o resto, em patrimônio liquido (risos contidos). Sou um ser socialmente bem alocado e acredito que ainda tenho faculdades mentais em dia (assim espero eu).

Agora jogado encima da minha cama, com fones de ouvidos e escutando um som maravilhoso, volto meus pensamentos lá para aquele quiosque, e fico perplexo é impressionante como em poucas horas nossa vida pode se transformar, como palavras amigas de pessoas que nunca te viram pode mudar e moldar sua vida. Esse momento inesquecível para mim, por favor, adicione em meu patrimônio liquido.

Acho que essas primeiras horas deste ano, vendo o mar agitado sentado em uma mesa com o cigarro em mãos, sentido aquela garoa em meu suado rosto, com minha carne tremula foi possível perceber quantas coisas se abriram para mim. Quantas coisas se transformaram e quantas coisas tende a se transformar.

Então vamos à lista de sinistros que quero ter ainda no começo deste mês. Por favor, faço questão de entrar nesta lista pessoas indesejadas que só me trouxeram problemas durante este ano, pessoas que só souberam sugar, pessoas que queriam angariar coisas para si mesmas, pessoas problemáticas e por ultimo, mas não menos importantes pessoas falsas, duais que só sabe te levar a falência social.

Quero que entre em minha lista de sinistros também gestos de discórdia, de ódio entre tantas coisas que me ferem profundamente. E se não for pedir demais quero que entre nesta lista algumas feridas ainda abertas e que são difíceis de fechar.

E em patrimônio quero, por favor, riquezas, sejam elas de saúde, amor e principalmente de dinheiro. Sim isso mesmo, sou de carne e osso e preciso de muita grana para bancar todos os meus gostos e desejos. E o que não pode faltar, por favor, adicione noites suadas em baladas, noites de sexos exagerados e seja generoso neste quesito. Pois sei que a dama de cabelos negros que já no primeiro dia do ano me visitou vai querer isto também.

Fico feliz por ter conseguido sobreviver a mais um ano, fazer mais um aniversario, ver meus primeiros cabelos brancos nascer, mudar de face e de forma muitas vezes. E ter vivido, mas sou ganancioso sim e não nego e se eu tivesse somente vivido eu não estaria tão feliz, sim além de viver eu aprontei, brinquei, dei risada e chorei, corri atrás de ônibus, fiz criança chorar fazendo careta, briguei e fiz mais um monte de milhares de coisas que fez este ano ser, indescritível.

domingo, 17 de maio de 2009

Demônios

A noite estava calada, nem o vento que vinha do sul trazendo o frio assobiava como antigamente. Tudo quieto, calado e escuro.


Mas uivos e latidos de cachorros cortavam o silencio vez ou outra, fazendo sua cabeça rodar enquanto ele tragava aquela fumaça especa e amarga que saia da única coisa que lhe acalmava.


O cenário era lamentável, roupas, objetos e restos de dejetos espalhados por cada centímetro daquele quarto frio fazia com que sua mente o transportasse para tempos remotos de dor.


A musica do passado entrava em seus ouvidos, e fazia seu cérebro pulsar de forma frenética e surreal. A dor envolvia seu corpo, membros e espírito se contorciam de dor.


Ele já sabia, era chegada a hora de libertar aquele demônio que há tempos havia dormido em seu crepúsculo interno. Ele tremia enquanto suas mãos geladas repulsavam e puxavam seus cabelos contra seu pequeno rosto. Aquela maldita dor infame que a tempo ele não sentia rasgava seu peito e embolava sua garganta fazendo-o cogitar.


Ele olhava para os cantos daquele quarto vazio e já sem vida e só via as cenas de um passado insólito e falido do qual por muitas vezes ele chorou sem ter ninguém para ouvir ou acalentar.


As mordidas nos lábios e língua e os apertões entre os dentes já o fazia sentir o gosto de fel que seu sangue soltava. Era aquele maldito mostro se libertando.Seu corpo começa a se repulsar enquanto sua respiração fica cada vez mais visceral e sem ritmo, e já era possível ver as primeiras lagrimas correr entre seus frágeis olhos. Ele levanta dali, com uma tontura indescritível enquanto aquela maldita musica continuava tocar.


A musica transportava seu corpo e espírito para onde jamais ele queria voltar, ele não agüenta e seu corpo cai ao chão como uma arvore morta enquanto um choro descontrolado o fazia perder seus sentidos e sua consciência. Já era a hora, aquela maldita coisa que há tempos tinha o deixado viver se libertava. E ele ali jogado em meio a restos de coisas e trapos, tentava se levantar procurando mais um daquele maldito cigarro para fumar.


Vai até sua gaveta pega aquela faca que ele já não usava e sem sentir ou mesmo reclamar se flagela na busca incansável de tentar arrancar aquela dor que não era dele. O cigarro aceso jogado no chão queimava sozinho enquanto seu corpo se repulsava no chão gelado esperando somente o beijo doce da morte, o acalentar.


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Escute ao som de CMTN - Sinta vontade de ficar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Madrugada sombria!

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A cidade vazia… não se ouvia outro barulho a não ser o ronco do motor do seu carro. A solidão o acompanhava no banco do passageiro de seu carro, enquanto as luzes que ensolaravam o caminho e fazia o asfalto brilhar fazia sua vista ofuscar.

Entre seus pés, garrafas daqueles líquidos que o anestesiava de toda aquela dor que ele estava sentindo. Era um vazio, algo irreconhecível que o possuía sempre e que ele comungava sem ao menos notar.

A musica alta saia dos auto falantes, e circulava dentre os bancos e seus ouvidos, a fumaça do cigarro que ele segurava calmamente dentre os dedos para fora da janela do carro fazia cogitar pequenos espirros, enquanto o carro a cada segundo corria mais, cortando o vento de forma assustadora e fazendo ruídos inimagináveis para o momento.

Ele chora descontrolado sem entender bem o motivo, ele tinha tudo o que queria, se sentia desejado, mas não desejava nenhum daqueles corpos que ele tinha.

Todos se amostravam, o desejava, lutavam para conseguir. E enquanto ele oferecia prazer e se lambuzava no deleite dos deuses, entregando para aqueles corpos potrificados seu corpo de menino e suas mãos habilidosas. Porem, a cada gesto de desejo, a cada movimento sensual e promiscuo mais seu coração gelava e se trancava em mundo que nem ele conseguia acessar.

Por um momento ele sente um solavanco no volante e volta a consciência rapidamente, tentando voltar toda sua atenção para a estrada límpida que seguia a sua frente.

Tudo parecia morto, as luzes tremulas e bruxelantes, as arvores mórbidas e redundantes, um asfalto pálido e sem vida, um corpo morto que dirigindo percebia tudo isso com detalhes jamais pensados.

Era ele novamente se transportando para o passado, o presente e tentando achar um caminho para o seu futuro. Ele já não queria mais aquilo. Ele só queria viver como um ser normal. Mostrar a todos que ele também era dotado de amores e medos. Mas alguém percebia? Todos o viam somente com aquele jeito opulente de ser.

Mais um solavanco no volante e novamente ele começa a perceber detalhes e cheiros daquela avenida que agora cheias de curvas o deixava com anciã e tontura. Voltando sua atenção para dentro do carro ele pega mais um cigarro, acende e com um suspiro ofegante e poderoso ele já não controla mais o choro e cai em si de como ele queria mudar tudo aquilo, mas não se sentia capaz. Lembra do tempo que tinha sido feliz, e se sente infeliz por ter perdido tudo aquilo.

Seus olhos adentram sua alma, e o leva para aquele tempo de risadas gratuitas, e ao mesmo tempo lhe mostra toda a destruição e auto-destruição que seguiu a frente depois daquilo tudo. E como sua vida tinha se tornado um crepúsculo sem fim.

Desesperado e sem controlar seus supiros e lagrimas, ele procura mais daqueles líquidos para tomar… Um gole… Mais um e pronto.

Já se sentia sem condição de viver, de navegar, trafegar e dirigir sua própria vida. Era o coadjuvante ao invés do diretor, era o crápula imundo que a família e os amigos fez questão de largar.

Bebe mais um gole, da uma ultima tragada naquela bituca que já estava no filtro, e o choro se descontrola junto com suas mãos…

…Aos poucos as coisas se escurecem, ele ouve um barulho ao longe e sente as dores passar!

Leia ao som de: Call It A Day – The Reconteurs