segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Silêncio



As luzes do banheiro estavam apagadas e o que iluminava seu corpo era a luz da lua que entrava pelas frestas distantes e arredondadas da janela, a água do chuveiro caia de forma límpida e rebatia sobre teu corpo como agulhas afiadas adentrando por dentro de sua pele, carne, alma.

O calor era insuportável e aquela água quente deixava seu corpo flamejante e latejante o deixando nauseante. Sentado a baixo daquela cachoeira de poeiras e lagrimas da terra estava ele, despido de seus pudores, prazeres e os mais celebres desejos, nu de todas as suas faculdades, de todas as iras do qual sempre o provocará a fazer coisas do qual ele pouco entendia.

O choro era compulsório não tinha mais como posterga as lagrimas contida a tanto invernos e a tantos desprazeres que o desferia de forma abrupta.

Levanta a mão, puxa um pequeno e surrado espelho e se olha de forma empírica, superficial, suas curvas volumosas e seu corpo surrado e sujo... Sujo dos crimes e sofrimentos que ele causou a si. Seu rosto já não era mais o mesmo, a barba semi-serrada e os olhos caídos era a clara e mais humilhante forma de cansaço, não físico mas seu espírito já velho e abatido refletia sobre seus olhos já sem brilho, vida.

Tudo se silenciava em sua volta e aquele barulho infernal da água batendo sobre suas costas não o deixava atordoado.

As lagrimas escorriam sobre seu rosto, peito e coxas enquanto acuado dentro de si e de forma fetal ele tentava entender o que tinha havido, como chegou ali? Porque dessa forma? Será que aqueles monstros que tanto o atormentava haviam ressuscitado a ponto de ele não ser mais o dono de seus movimentos, o ventríloquo fazendo o papel do mais barato brinquedo?

As perguntas vinham de forma categórica em uma epifania onírica, as visões eram turvas e aquela luz maldita de se refletia sobre a água que escorria pelo pequeno e enferrujado ralo suas expectativas de uma vida mais pura, refletia seus sonhos e desejos mais infames, e tudo escorria, tudo acabava indo para o esgoto de fezes e dejetos putrificados.

As lagrimas se tornaram mais vorazes, e sua imagem refletida naquele velho espelho se tornava turva e com pouca vida.

Silêncio, atenção, Silêncio...

Tudo se silenciou, seu coração por um momento parou, e toda aquela metamorfose, toda aquela sofreguidão por um momento parou.

Ele levanta ainda estonteante, escorrega e cai desferindo sua cabeça, o sangue escorre e mancha de vermelho aquela água pura que a pouco lavava tua alma. Apressado ele encontra na primeira gaveta de madeira ruim e farelenta os comprimidos que iria por um fim naquele sofrimento...

Um mais um, Silêncio, dor, angustia, repudio de um dia ter feito... Torpor, sua alma se entorpece e seu corpo cai sobre sangue, fezes e água.

Silêncio!