domingo, 17 de maio de 2009

Demônios

A noite estava calada, nem o vento que vinha do sul trazendo o frio assobiava como antigamente. Tudo quieto, calado e escuro.


Mas uivos e latidos de cachorros cortavam o silencio vez ou outra, fazendo sua cabeça rodar enquanto ele tragava aquela fumaça especa e amarga que saia da única coisa que lhe acalmava.


O cenário era lamentável, roupas, objetos e restos de dejetos espalhados por cada centímetro daquele quarto frio fazia com que sua mente o transportasse para tempos remotos de dor.


A musica do passado entrava em seus ouvidos, e fazia seu cérebro pulsar de forma frenética e surreal. A dor envolvia seu corpo, membros e espírito se contorciam de dor.


Ele já sabia, era chegada a hora de libertar aquele demônio que há tempos havia dormido em seu crepúsculo interno. Ele tremia enquanto suas mãos geladas repulsavam e puxavam seus cabelos contra seu pequeno rosto. Aquela maldita dor infame que a tempo ele não sentia rasgava seu peito e embolava sua garganta fazendo-o cogitar.


Ele olhava para os cantos daquele quarto vazio e já sem vida e só via as cenas de um passado insólito e falido do qual por muitas vezes ele chorou sem ter ninguém para ouvir ou acalentar.


As mordidas nos lábios e língua e os apertões entre os dentes já o fazia sentir o gosto de fel que seu sangue soltava. Era aquele maldito mostro se libertando.Seu corpo começa a se repulsar enquanto sua respiração fica cada vez mais visceral e sem ritmo, e já era possível ver as primeiras lagrimas correr entre seus frágeis olhos. Ele levanta dali, com uma tontura indescritível enquanto aquela maldita musica continuava tocar.


A musica transportava seu corpo e espírito para onde jamais ele queria voltar, ele não agüenta e seu corpo cai ao chão como uma arvore morta enquanto um choro descontrolado o fazia perder seus sentidos e sua consciência. Já era a hora, aquela maldita coisa que há tempos tinha o deixado viver se libertava. E ele ali jogado em meio a restos de coisas e trapos, tentava se levantar procurando mais um daquele maldito cigarro para fumar.


Vai até sua gaveta pega aquela faca que ele já não usava e sem sentir ou mesmo reclamar se flagela na busca incansável de tentar arrancar aquela dor que não era dele. O cigarro aceso jogado no chão queimava sozinho enquanto seu corpo se repulsava no chão gelado esperando somente o beijo doce da morte, o acalentar.


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Escute ao som de CMTN - Sinta vontade de ficar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Madrugada sombria!

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A cidade vazia… não se ouvia outro barulho a não ser o ronco do motor do seu carro. A solidão o acompanhava no banco do passageiro de seu carro, enquanto as luzes que ensolaravam o caminho e fazia o asfalto brilhar fazia sua vista ofuscar.

Entre seus pés, garrafas daqueles líquidos que o anestesiava de toda aquela dor que ele estava sentindo. Era um vazio, algo irreconhecível que o possuía sempre e que ele comungava sem ao menos notar.

A musica alta saia dos auto falantes, e circulava dentre os bancos e seus ouvidos, a fumaça do cigarro que ele segurava calmamente dentre os dedos para fora da janela do carro fazia cogitar pequenos espirros, enquanto o carro a cada segundo corria mais, cortando o vento de forma assustadora e fazendo ruídos inimagináveis para o momento.

Ele chora descontrolado sem entender bem o motivo, ele tinha tudo o que queria, se sentia desejado, mas não desejava nenhum daqueles corpos que ele tinha.

Todos se amostravam, o desejava, lutavam para conseguir. E enquanto ele oferecia prazer e se lambuzava no deleite dos deuses, entregando para aqueles corpos potrificados seu corpo de menino e suas mãos habilidosas. Porem, a cada gesto de desejo, a cada movimento sensual e promiscuo mais seu coração gelava e se trancava em mundo que nem ele conseguia acessar.

Por um momento ele sente um solavanco no volante e volta a consciência rapidamente, tentando voltar toda sua atenção para a estrada límpida que seguia a sua frente.

Tudo parecia morto, as luzes tremulas e bruxelantes, as arvores mórbidas e redundantes, um asfalto pálido e sem vida, um corpo morto que dirigindo percebia tudo isso com detalhes jamais pensados.

Era ele novamente se transportando para o passado, o presente e tentando achar um caminho para o seu futuro. Ele já não queria mais aquilo. Ele só queria viver como um ser normal. Mostrar a todos que ele também era dotado de amores e medos. Mas alguém percebia? Todos o viam somente com aquele jeito opulente de ser.

Mais um solavanco no volante e novamente ele começa a perceber detalhes e cheiros daquela avenida que agora cheias de curvas o deixava com anciã e tontura. Voltando sua atenção para dentro do carro ele pega mais um cigarro, acende e com um suspiro ofegante e poderoso ele já não controla mais o choro e cai em si de como ele queria mudar tudo aquilo, mas não se sentia capaz. Lembra do tempo que tinha sido feliz, e se sente infeliz por ter perdido tudo aquilo.

Seus olhos adentram sua alma, e o leva para aquele tempo de risadas gratuitas, e ao mesmo tempo lhe mostra toda a destruição e auto-destruição que seguiu a frente depois daquilo tudo. E como sua vida tinha se tornado um crepúsculo sem fim.

Desesperado e sem controlar seus supiros e lagrimas, ele procura mais daqueles líquidos para tomar… Um gole… Mais um e pronto.

Já se sentia sem condição de viver, de navegar, trafegar e dirigir sua própria vida. Era o coadjuvante ao invés do diretor, era o crápula imundo que a família e os amigos fez questão de largar.

Bebe mais um gole, da uma ultima tragada naquela bituca que já estava no filtro, e o choro se descontrola junto com suas mãos…

…Aos poucos as coisas se escurecem, ele ouve um barulho ao longe e sente as dores passar!

Leia ao som de: Call It A Day – The Reconteurs

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Alvorecer


O sol ja estava em seu deleite de descanço e a noite começava a despontar no horizonte quando ele acordou.

Ele abre seus olhos e se vê mais uma vez naquele lugar escuro, o cheiro de restos de cigarros e o odor forte que subia das garrafas de vodka vazias, o deixava com nauzeas e por vezes ancias.

O lugar era degradante o cheiro de mofo se misturava com o fedor de todos os restos de coisas que ali jaziam jogadas sem fim algum. Paredes humidas, uma cama pequena com um cholchão fétido e fino. Entre todas as coisas que ali estavam jogadas se destacava uma mesa retangular e baixa, onde tinha fotos e papéis com letras tremidas e desenhos rabiscados.

Ele se senta na ponta daquela cama, ascende mais um cigarro e olha em sua volta e se vê naquele lugar potrificado do qual ele estava, e se retorcia por dentro em saber em qual situação ele tinha chegado.

Seus cabelos grandes e bagunçados, rosto redondo e corpo curvo. Suas mãos tremiam sinuosamente, e enquanto uma era ocupada pelo cigarro e pela fumaça que o mesmo expelia, a outra era calmamente passada sobre sua cabeça ao modo de tentar arrumar seus cabelos e ao mesmo tempo amortecer a dor infame que ele sentia naquele momento.

Ele olha para os lados como se procurasse algo, entre garrafas ja vazias e restos de comidas apodrecidas, ele encontra um resto daquele liquido que o mantinha anestesiado de sua dor e afastado de suas mais infames loucuras.

Ele rapidamente pega aquela garrafa, suja e encardida, e de forma visceral toma todo aquele liquido transparente de gosto forte e cheiro terrivelmente anestésico.

Por um momento é possivel ver seu corpo se comprimir, e suas mãos apertarem suas coxas. Seus olhos se apertam, enquanto ele morde seus labios e sente sua alma sendo projetada para fora do seu corpo. Espasmos carnais, reflexos espirituais e transtornos psiquicos assolam um mesmo ser, um mesmo corpo em busca do esquecimento mutuo de um passado falido e doloroso.

Todos o haviam deixado, e toda sua vida se transformará em pó quando aquele acidente aconteceu. As fotos na mesa retangular o fazia relembrar dos que sempre estavam ao seu lado, lhe prometendo consolo perpetuo. Letras tremidas tentavam descrever aquele sentimento do qual ele sentia mas lhe faltava palavras.

Seu corpo pulsa encima da cama enquanto seus pensamentos são projetados para fora de seu corpo, era como uma tela de cinema, nas paredes daquele quarto escuro e ja sem vida era mostrado tudo o que ja tinha acontecido em sua vida.

Rostos alegres, pessoas amorosas, festas e coisas estranhas passavam em frente ao seus olhos, enquanto ele chorava descomunalmente em frente a tais imagens.

As imagens daquele acidente começava a passar sobre as paredes e o choro vinha o rasgando o peito, enquanto suas lembranças cada vez mais era projetada para fora, envolto aquelas paredes emboloradas.

Ele se encolhe em um canto da cama com sua cabeça entre seus joelhos e é possivel escutar seus soluços de desespero e dor.

A fumaça do cigarro se torna ligeira, a musica de sua vida fica cada vez mais pertubante e em um ato de loucura e insanidade um grito fervoroso sai de sua garganta enquanto seu corpo cansado e abatido cai sobre aquele colchão.

Como um raio tudo se apaga, tudo se torna quieto e sem vida. Enquanto seu corpo descança sobre o ar funebre do momento.

Vida doce vida… Como o féu que caia do sangue do primogênito, em seus braços naquele dia.