quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Tautologia




Hoje eu cresci, acordei de um sonho de criança onde tudo me levava a um mundo fantasioso e de angustia alucinógena.

A frase a cima poderia ser o resumo perfeito das ultimas semanas que tenho vivido neste ano. Tenho ciência da minha existência mediócre nesse mundo que pede mais do que posso contribuir, tenho ciência do todo que deixei para traz para entrar em uma caminhada do qual não era minha.

Desde dezembro tenho lido um livro que estou fazendo questão de lê-lo vagarosamente a fim de degustar cada palavra, pois nunca encontrei algo que poderia retratar tanto minha vida no ultimo ano. Cucco transmite a historia de uma mulher que coloca a outra em sua casa como forma de acalento e ajuda, porém como na vida real só conhecemos as pessoas quando convivemos com ela dia e noite, quando ela dorme em sua cama durante noite em fio e seu suor e odor impregna de tal maneira em tua pele, corpo e alma que mesmo com o melhor do alvejantes você não consegue tirar aquele sebo do qual te impregnou.

Dois mil e doze foi um ano de zero conquistas, de retrocesso mental, de vida cultural abstrata, me gerou uma enxaqueca constante, mas não em minha cabeça e sim na minha alma. "Em que esquina minha alma se perdeu ou em que rumo se desviou?". Essa foi a frase que mais me perguntei nos primeiros dias deste ano.
Até onde podemos abrir mão de nossas vidas para doa-lá de forma pueril para alguém? Bem, foi outra pergunta que me fiz e sinceramente ainda pego meu chicote mental e faço minha sazonal auto-punição de forma a acordar de um pesadelo que durou meses a fio.

Kafka em seu mais celebre livro, A Metamorfose, nos prestigia com a historia de um homem comum e de meia idade que um belo dia acorda feito uma barata, a reclusão é sua única saída, uma vez que seus amigos e familiares não o reconhece mais como parte daquele mundo, ele passa dias e noite olhando as luzes da cidade sobre a janela, observando o mundo de sua pequena e mediócre cela. A comida o é servida fria e já sem muita vida, o calor humano que o confortava já não é oferecido e ele permanece ali até o desfexo do livro que Kafka faz questão de não demonstrar um destino ao certo a sua criação.

Como em A Metamorfose, minha vida se tornou uma clausura, amigos e família se afastaram afim de eu não ser mais inserido na sociedade como eles assim conheciam, eu mudei, criei minha própria metamorfose e me distanciei para não causar asco de minhas novas "antenas". O conforto de um abraço se tornou cada vez mais escaço dentro de minha cela de 3 comôdos, onde a comida já era me servida fria, como o coração que acompanhava a mão que me jogava o prato.


Me olho no espelho hoje, olho meu reflexo na janela durante a noite, olho meus olhos caídos e minha pela maltratada pelo tempo deste um quarto de século e enxergo uma pessoa que eu mesmo não consegui entender o processo de criação dela. Me vejo em um momento do qual cheguei sem ter ciência disso, um momento do qual uma mente mórfica me levou.
Ao contrário do que se pensa não sou Tautologista. Esta frase é outra que eu poderia colocar em meu epitáfio. Mas não será necessário de momento uma vez que ainda viverei durante muitos anos só para ter o gosto de amargar mais um pouco esse mundo com minha doçura infantil e meu féu adolescente.

Precisei de mais um mês para realmente acordar este ano e estraçalhar o ano anterior afim de apaga-lo de minhas paginas amareladas e corroídas pelas traças. Mas agora que acordei estou mais vivo do que nunca, meu coração pulsa jorrando um sangue tão vermelho quanto antes por entre minhas veas e vasos.
Estou pronto para andar e para trazer ao meu lado pessoas que possam me transformar em uma pessoa melhor pelo que sou e não pelo que elas desejaria que eu fosse.

Tudo é mutável neste mundo, mas é sempre bom aprender que nunca a nossa alma poderá passar por mutação. Somos essência e o perfume de uma essência é imutável.

Enfim considerem este texto como o rodapé "Fail" de 2012. E acreditem tive um sangue mais do que frio para escrever.

Sangue frio esse que absorvi do lado gelado da minha cama do qual era ocupado.